Ouço pessoas rindo.

 


Mais uma noite fria,e ainda que estamos na primavera... Como sempre não vejo a hora de chegar o tempo em que eu sinto o calor e como casquinhas de sorvete depois do expediente vendo os cachorros brincarem.

Hoje é terça, dia de música no restaurante ao lado, músicas que eu nem consigo escutar direito, pra mim é mais um dos zumbidos nesse meu "silêncio", além dos barulhos dos brinquedos irritantes da playland que fazem as crianças chorarem por quererem sempre mais, do barulho de talheres batendo e cadeiras arrastando, a caneta sobre o papel, a minha respiração, e ao fundo - como sempre se prestarmos atenção - o barulho de pessoas rindo.

Queria poder ler meu livro que há muito tempo está ali guardado e imaculado na minha bolsa, mas acordo cedo demais e o sono está me batendo forte, não tenho chances de tirar uma pequena soneca daquelas que nós tiramos meio escondidinhos e quando finalmente conseguimos fechar os olhos parece que entramos no nosso infinito particular.

Os pelos do meu braço arrepiam de frio, minhas piscadas lentas de sono estão me deixando cada vez mais molinha, ficar aqui aos plenos e lindos 17 anos e lembrar que aos 7 eu estava em casa, a mãe gritando para tomar banho e ao mesmo tempo separando um pijama quentinho, para depois do banho eu poder deitar no sofá e por os pézinhos que calçavam meias coloridas na parede da sala laranja, enquanto fazia palhaçadas com meu irmão, tomar um nescau e enfim dormir no aconchego do colo de mãe. Ah, como esse tempo passou rápido!

Pessoas sérias me irritam sempre, acho que isso não vai mudar nunca, "intelectuais" querendo mostrar o seu saldo bancário. Pessoas felizes que levam a vida na paciência e sorrindo, outras insatisfeitas por suas próprias escolhas, e outras tristes por ter que engolir palavras, e assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade...

Frio, chuva, primavera que não combina com isso e ao fundo novamente pessoas rindo.

A certeza de olhar para essas paredes, roupas, e gravatas de que vou sentir saudades desse ano, de como achei impressionante tanta coisa mudar em 12 meses.

Tenho a agradecer, tenho a reclamar, mas por enquanto calo meus pensamentos vazios e me entrego a olhar esse ambiente onde sempre há um riso ao fundo, esperando até que eu tenha que dar o próximo "Boa Noite" com sorriso no rosto.
                                    
                                                                                                                                     Lectícia Péttine

Comentários

Postagens mais visitadas